sábado, 27 de agosto de 2016

Amar a distancia


Amar a distancia



Uma das coisas mais difíceis de lidar quando a gente vive longe do país é deixar a família e amigos para trás. Tem suas vantagens, é claro, ficamos longes das intrigas familiares, eu sempre brinco, que minha mãe vive longe, mas a sogra também. (Mentira, sinto muitas saudades da sogra também). Descobrimos quais são nossos amigos verdadeiros, e para muitos, é a primeira vez que cortamos o cordão umbilical.

Deixar a família para trás é difícil para a maioria de nós, para alguns mais desprendidos nem tanto, mas para todos aqueles que vierem para fora e por qualquer razão o tempo for se estendendo ou se tornando indefinido, chegarão momentos que nos damos conta que o tempo passa diferente quando estamos fora.

Nos meus primeiros 2 anos no México fui 4 vezes ao Brasil, confesso que não tive muito tempo para perder contatos pois vivia mais a vida lá do que aqui. Após isso eu passei 3 anos sem ir para o Brasil. Me lembro que nada me chocou mais que ver minha avó após esse período. Ela cumpria 80 anos e na verdade, apenas seguia o curso natural da vida, a vi pela primeira vez como uma senhora idosa, e não a fortaleza de sempre, mas assim como as crianças, os velhos nos mostram claramente a passagem dos anos.

Outro evento que me marcou foi quando minha irmã engravidou, não estar por perto durante a gestação, o parto. O dia que minha sobrinha nasceu, numa cesárea programada, eu falei para meus filhos que a prima deles ia nascer, minha filha na sabedoria dos seus 4 anos, baixou a cabeça triste. Eu disse que a veríamos por Skype e minha filha me olhou com os olhos cheios de lágrima e me disse que não dava para abraçar pelo Skype ou segurar a neném pelo Skype. Choramos todos juntos.

Logo vieram os primeiros aniversários, os aniversários importantes (40, 50, 60, 80), formaturas, casamentos, enterros. Em alguns deles pudemos ir, a maioria foi comemorado on line ou chorando por telefone. Alguns momentos simplesmente corremos e ficamos lá, por um tempo, pelo tempo que podemos, como quando minha sogra teve um infarto e meu esposo pode ficar com ela durante a cirurgia e cuida-la na recuperação, em suas primeiras semanas.

Na minha última ida ao Brasil pude acompanhar meu pai ao médico e ser a pessoa que estava do lado dele quando soube que o câncer havia voltado, era inoperável e seria uma questão de sobrevida. Pudemos conversar, ter “aquela” conversa, estando ainda bem, relativamente saudável. São decisões difíceis. As longas doenças ou as mortes instantâneas, não sabemos qual é a pior parte, estando aqui ou lá.

Por um lado, construímos uma vida do outro lado do hemisfério, carreiras, um futuro melhor para os filhos, novos amigos. Por outro lado, sempre teremos uma história anterior, amores anteriores, amigos, família. Vivemos uma vida, a correria do dia a dia, construímos pontes, trilhamos novos caminhos, mas sempre estaremos vivendo outra vida on line.

Nos acostumamos a fazer festas natalinas com famílias improvisadas, sentir frio na época de calor do Brasil, juntamos a comunidade brasileira em carnavais, festas juninas, quem pode perde o verão aqui para passar frio no Brasil. A vida no exterior pode ser muito boa, depois de superadas as dificuldades iniciais, e apesar de tudo, pesando os prós e contras, eu realmente não desejo voltar para o Brasil, talvez algum dia, mas esse dia fica cada vez mais distante, mais difuso.

Com o tempo nos damos conta de que deixamos para trás muitas coisas, perderemos os últimos anos de alguns entes queridos, os primeiros ou mais importantes de outros seres amados, mas essa é a vida que escolhemos para nós. Poucos dos que ficaram nos entendem, alguns desejariam estar no nosso lugar, sem noção de quantas perdas enfrentamos nessa escolha.

A tecnologia nos ajuda, as ligações ilimitadas da Telmex são uma verdadeira maravilha, facebook, facetime, grupos de família, amigos de whatsapp, mas não substituem os abraços, os cheiros, os sons, o toque. É parte da escolha de viver fora, que ninguém pense que é fácil ou simples, mas se soubermos cuidar de quem realmente importa em nossas vidas, podemos amar e estar presentes online. Aos que tem ou terão filhos, ensina-los a falar português, a cantar nossas canções, manter nossa cultura, tradições familiares, a amarem os avós, bisavós, tios, primos e melhores amigos, faze-los sentir-se vivos, importantes, amados e queridos, é o que realmente importa, porque para nós o tempo deles sempre foi diferente da vida daqui.


Fabiana Giannotti, brasileira radicada no México desde 2008, casada, 2 filhos, passou a ser mãe 24h e dona de casa após vir para cá. Praticamente uma expert em mudanças depois de encontrar e mudar para 8 casas em 7 anos, além de acumular experiências em tradução, aulas de português, corretagem de imóveis e assessoria para expatriados. Adoro escrever, conversar, fazer novos amigos, viajar. Me considero afortunada por viver no México, aprender a respeitar e conhecer essa bela cultura. Conhecer, adaptar-se, aprender, mudar, acostumar, respeitar, amar o diferente são algumas coisas que descobri nos últimos anos, além do fato que, por mais perfeito que seja o plano tudo pode mudar de repente...
Colunista e parceira no blog: viviendoenelmexicomagico.blogspot.mx/


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