Amar a
distancia
Uma das
coisas mais difíceis de lidar quando a gente vive longe do país é deixar a
família e amigos para trás. Tem suas vantagens, é claro, ficamos longes das
intrigas familiares, eu sempre brinco, que minha mãe vive longe, mas a sogra também.
(Mentira, sinto muitas saudades da sogra também). Descobrimos quais são nossos
amigos verdadeiros, e para muitos, é a primeira vez que cortamos o cordão
umbilical.
Deixar a
família para trás é difícil para a maioria de nós, para alguns mais desprendidos
nem tanto, mas para todos aqueles que vierem para fora e por qualquer razão o
tempo for se estendendo ou se tornando indefinido, chegarão momentos que nos
damos conta que o tempo passa diferente quando estamos fora.
Nos meus
primeiros 2 anos no México fui 4 vezes ao Brasil, confesso que não tive muito
tempo para perder contatos pois vivia mais a vida lá do que aqui. Após isso eu
passei 3 anos sem ir para o Brasil. Me lembro que nada me chocou mais que ver
minha avó após esse período. Ela cumpria 80 anos e na verdade, apenas seguia o
curso natural da vida, a vi pela primeira vez como uma senhora idosa, e não a
fortaleza de sempre, mas assim como as crianças, os velhos nos mostram
claramente a passagem dos anos.
Outro
evento que me marcou foi quando minha irmã engravidou, não estar por perto
durante a gestação, o parto. O dia que minha sobrinha nasceu, numa cesárea
programada, eu falei para meus filhos que a prima deles ia nascer, minha filha
na sabedoria dos seus 4 anos, baixou a cabeça triste. Eu disse que a veríamos por
Skype e minha filha me olhou com os olhos cheios de lágrima e me disse que não
dava para abraçar pelo Skype ou segurar a neném pelo Skype. Choramos todos
juntos.
Logo vieram
os primeiros aniversários, os aniversários importantes (40, 50, 60, 80), formaturas,
casamentos, enterros. Em alguns deles pudemos ir, a maioria foi comemorado on
line ou chorando por telefone. Alguns momentos simplesmente corremos e ficamos
lá, por um tempo, pelo tempo que podemos, como quando minha sogra teve um
infarto e meu esposo pode ficar com ela durante a cirurgia e cuida-la na
recuperação, em suas primeiras semanas.
Na minha
última ida ao Brasil pude acompanhar meu pai ao médico e ser a pessoa que
estava do lado dele quando soube que o câncer havia voltado, era inoperável e
seria uma questão de sobrevida. Pudemos conversar, ter “aquela” conversa,
estando ainda bem, relativamente saudável. São decisões difíceis. As longas
doenças ou as mortes instantâneas, não sabemos qual é a pior parte, estando
aqui ou lá.
Por um
lado, construímos uma vida do outro lado do hemisfério, carreiras, um futuro
melhor para os filhos, novos amigos. Por outro lado, sempre teremos uma
história anterior, amores anteriores, amigos, família. Vivemos uma vida, a
correria do dia a dia, construímos pontes, trilhamos novos caminhos, mas sempre
estaremos vivendo outra vida on line.
Nos
acostumamos a fazer festas natalinas com famílias improvisadas, sentir frio na
época de calor do Brasil, juntamos a comunidade brasileira em carnavais, festas
juninas, quem pode perde o verão aqui para passar frio no Brasil. A vida no
exterior pode ser muito boa, depois de superadas as dificuldades iniciais, e
apesar de tudo, pesando os prós e contras, eu realmente não desejo voltar para
o Brasil, talvez algum dia, mas esse dia fica cada vez mais distante, mais
difuso.
Com o tempo
nos damos conta de que deixamos para trás muitas coisas, perderemos os últimos
anos de alguns entes queridos, os primeiros ou mais importantes de outros seres
amados, mas essa é a vida que escolhemos para nós. Poucos dos que ficaram nos
entendem, alguns desejariam estar no nosso lugar, sem noção de quantas perdas
enfrentamos nessa escolha.
A
tecnologia nos ajuda, as ligações ilimitadas da Telmex são uma verdadeira
maravilha, facebook, facetime, grupos de família, amigos de whatsapp, mas não
substituem os abraços, os cheiros, os sons, o toque. É parte da escolha de viver
fora, que ninguém pense que é fácil ou simples, mas se soubermos cuidar de quem
realmente importa em nossas vidas, podemos amar e estar presentes online. Aos
que tem ou terão filhos, ensina-los a falar português, a cantar nossas canções,
manter nossa cultura, tradições familiares, a amarem os avós, bisavós, tios,
primos e melhores amigos, faze-los sentir-se vivos, importantes, amados e
queridos, é o que realmente importa, porque para nós o tempo deles sempre foi
diferente da vida daqui.
Fabiana Giannotti,
brasileira radicada no México desde 2008, casada, 2 filhos, passou a ser mãe
24h e dona de casa após vir para cá. Praticamente uma expert em
mudanças depois de encontrar e mudar para 8 casas em 7 anos, além de acumular
experiências em tradução, aulas de português, corretagem de imóveis e
assessoria para expatriados. Adoro escrever, conversar, fazer novos amigos,
viajar. Me considero afortunada por viver no México, aprender a respeitar e
conhecer essa bela cultura. Conhecer, adaptar-se, aprender, mudar, acostumar,
respeitar, amar o diferente são algumas coisas que descobri nos últimos anos,
além do fato que, por mais perfeito que seja o plano tudo pode mudar de
repente...
Colunista e parceira no
blog: viviendoenelmexicomagico.blogspot.mx/
,
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